Alvino, o menino que furtava livros virou pós-doutor
Autor: Ariadne Körber - Estagiária de Jornalismo
O australiano Markus Zusak notabilizou as agruras da personagem Liesel Meminger no best-seller “A menina que roubava livros”, depois convertido em filme. A leitura era um escape aos anos sombrios do nazismo. Por esta mesma época, um menino da vida real fazia o mesmo “furtando” o conhecimento das prateleiras da biblioteca da escola onde estudava, em Rodeio, no interior de Santa Catarina.
Alvino Moser foi alfabetizado primeiro em espanhol, aos 6 anos, pois as revistas En Guardia eram as únicas publicações a que tinha o àquela altura, no principiar dos anos 1940. O governo dos Estados Unidos enviava essas revistas para toda a América Latina, com material contra os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália). Mais tarde, ao aprender o português no grupo escolar, e como o material de leitura era escasso, o garoto e seu sobrinho Otacílio entraram sorrateiramente na biblioteca da escola.
Enquanto Otacílio buscava a bola de futebol, Alvino ficou em êxtase diante de tantos livros. A quantidade era tal que ficava difícil escolher o que levar e por onde começar. Por mais que fosse uma pequena sala, era um tesouro. Os dois pegaram alguns volumes às escondidas, pois Alvino desejava ler durante as férias. O plano não deu certo. Descobertos, foram pegos e castigados pelo “delito”. Hoje, nem se recorda qual foi a punição, mas lembra que nunca mais invadiu a biblioteca. Daquele dia em diante, só pegava livros com permissão.
Ainda que os “carrascos” que puniram os meninos em Rodeio nem de longe lembrassem os nazistas, as restrições de o aos livros guardam alguma relação com a ficção de Markus Zusak. Os livros, como repositórios de todo saber, deveriam estar ao dispor de tantos quantos os queiram tomar às mãos. Param aqui as comparações.
A falta de livros em casa e o castigo pelo empréstimo à revelia não foram restrições o bastante para que o menino Alvino perdesse a sanha da curiosidade nem o gosto pela leitura. Longevo em idade, hoje ele conta 86 anos, e vasto em conhecimento, o guri que furtava livros em Santa Catarina tornou-se o decano de um dos maiores grupos educacionais do Brasil.
Professor da Uninter, Alvino Moser é graduado em filosofia e química, mestre em epistemologia, doutor em ética e pós-doutor em lógica deôntica e jurídica. Com todo seu conhecimento, mudou a vida de muitos alunos, tendo antes a sua própria vida transformada pelos livros.
O menino que não tinha o a livros didáticos, e tudo o que aprendia guardava de memória nos ditados durante as aulas, hoje tem nove livros publicados, colaborou com a escrita de outros 14 e acumula 79 artigos publicados em periódicos científicos. Tudo registrado e atestado no currículo Lattes.
A produção mais recente é um capítulo assinado com Luís Fernando Lopes, que integra a coletânea “A ética no jornalismo brasileiro: conceitos, práticas e normas”, organizada pelo jornalista Guilherme Carvalho, também coordenador do curso de Jornalismo da Uninter. A obra foi publicada neste ano pela editora Intersaberes.
Autor: Ariadne Körber - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Ariadne Körber - Estagiária de Jornalismo